quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ei, vovó


Vovó! –Eu grito com lágrimas nos olhos- Cadê a senhora? Venha segurar minhas mãos, venha sorrir comigo quando o mundo estiver desabando. Sente-se no chão e brinque comigo, assim como fazia, vovó. Segure minhas mãos, quando eu estiver com medo. Faça-me esquecer de toda essa dor que me atormenta. Leve essa dor ir embora. Volte para mim, vovó. Volte? Peço-lhe isso com lágrimas nos olhos. E com o coração na mão. Volte para a sua garotinha. Ela precisa de você. Sei que é impossível, agora estamos em “mundos” diferentes, mas eu estou fraca. E eu preciso do seu apoio. Preciso ouvir de você que eu vou continuar, porque eu sou forte. De ninguém mais. Preciso que você mexa em meu cabelo, até eu pegar no sono. Ando com medo do escuro... Faça-me ir para cama, e logo ir para um mundo de sonhos. Deite-se ao meu lado, não me faça ficar assim, vovó. Tire esse medo e essa angústia de mim, assim como só a senhora sabia tirar. Estou me sentindo um lixo, vovó. O mundo parece estar contra mim. Tudo aqui na Terra anda mudado demais. Todos deixam a criança que há dentro deles, morrer, e viram esses monstros. Parece que eles se sentem melhores, fazendo outro alguém sofrer. Isso aqui está horrível. A senhora precisa ver. Ficaria com medo, assim como estou. Ei... Caminhe ao meu lado. Eu acho tão estranho... Já se passaram anos e mais anos. E sempre quando chega em setembro/outubro, a senhora vem em meus pensamentos. Talvez seja por conta do seu aniversário. Eu queria poder ter mais lembranças. Eu queria ter alguma recordação da senhora, que eu já estivesse mais velha.  Talvez isso fosse me deixar melhor. Mas não tenho nada. Afinal, a senhora foi embora cedo demais. E me deixou. Por que a vida tem que ser assim? Tão injusta... Você se foi rápido demais. Eu lembro como se fosse ontem, aquele dia no nosso apartamento, quando você passou mal e foi ao hospital. Eu ainda choro só de lembrar. Desculpe-me se nunca disse que a amava. Desculpe-me se às vezes eu fazia aquelas birras de crianças. Desculpe-me se nunca lhe demonstrei o quanto eu precisava da senhora. Desculpe-me, vovó. Sei que nunca fui a melhor neta do mundo, ao contrário, eu estava longe disso. Mas se eu pudesse, eu faria tudo de novo. E seria melhor para ti. Desculpe-me por isso também. Mas ao saber que a senhora foi para o céu, com os anjos –foi assim que me disseram quando a senhora faleceu- eu só sabia chorar. Era um medo, pois você sempre foi minha proteção. Eu precisava de você mais uns instantes comigo. Eu tinha que ter a certeza, que você não iria permanecer aqui por muito tempo. Mas eu era não pequenina. Que me escondiam as coisas. Sabe, vovó, se eu soubesse, eu passaria todos os dias, naquele hospital, lhe vendo naquela cama, com aqueles seus cabelos ralinhos, seus olhos verdes claros, e aquele sorriso que sempre prevalecia em seu rosto. Talvez naquele hospital, eu não veria teu sorriso. De certa forma, isso pode ter sido bom. Pois eu guardei comigo, as lembranças boas. E não quando você estava prestes a falecer. Trago comigo, tudo o que você deixou. E essa saudade vem me atormentando demais. Eu preciso da senhora, vovó. Dê-me um sinal. Apareça em meus sonhos. Sorria para mim, e tudo irá passar. Seja meu anjo protetor. Lembra que a senhora disse que quando fosse para o céu, seria a estrala mais brilhante? Eu a procuro todos os dias, e acho que a encontrei. Isso me faz ficar mais perto de você. Minha estrela brilhante, eu a amo, amo tanto... E sinto saudades. Até demais. (Larissa Mendes.)

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